… Hebreia de nascimento, filósofa, pedagoga, convertida ao catolicismo, defensora da fé, escritora, mártir, grande mulher, grande santa.

Ela foi canonizada em 11 de outubro de 1998 pelo Papa João Paulo II, sendo mártir da Igreja e uma das seis santas co-padroeiras da Europa. Hoje em processo de ser declarada, também, Doutora da Igreja.

Para entender a sua mensagem sobre a Ciência da Cruz é necessário conhecer um pouco a sua história.

Nascida em uma família de religião praticante, Edith era a filha mais nova de 11 irmãos, do qual três morreram ainda crianças. Nasceu no dia 12 outubro 1891, no dia do Yom Kippur, o Dia do Perdão para os judeus. Seu pai morreu quando ela tinha apenas dois anos, o que fez cair sobre sua mãe Auguste a responsabilidade sobre os negócios da família. Apesar de sua mãe ser muito devota, Edith perdeu a fé em Deus ainda jovem.

Desde criança foi apaixonada pelo estudo, sempre em busca da sabedoria e da verdade. Em 1911, ingressou na Universidade da Breslávia para estudar alemão e história, apesar de seu verdadeiro interesse ser a filosofia que a levou a estudar na famosa Universidade de Gotinga. Movida pelas tragédias da Primeira Guerra Mundial, em janeiro de 1915, Edith interrompeu seus estudos e se voluntariou como auxiliar de enfermagem em um hospital de doenças infecciosas na Áustria. Concluiu seu doutorado com a tese sobre o Problema da Empatia. Ela foi a segunda mulher a receber um título de doutorado em filosofia na Alemanha, além de se tornar assistente do mais eminente filósofo de seu tempo, Edmund Husserl. Ela foi a primeira estudiosa a pedir oficialmente que as mulheres recebessem o status de “professoras” na faculdade.

Teve uma grande mudança em sua crença no ano de 1921, após um profundo momento de crise existencial, a partir da leitura da autobiografia de Santa Teresa de Ávila, quando estava em casa da amiga Hedwig Conrad-Martius, também filosofa e convertida ao cristianismo. Edith se converteu ao catolicismo e foi batizada em 1.º de janeiro de 1922, tomando a própria amiga como madrinha. Já religiosa, anotou: “A fé está mais próxima da sabedoria divina do que toda ciência filosófica e mesmo teológica”. Junto com o Batismo, ela mesma declara ter recebido a vocação de ser Carmelita Descalça, mas teve que esperar muitos anos para realizar este sonho.

Testemunhou a ascensão do Partido Nazista e a consequente perseguição aos judeus. Impedida pela lei racial de exercer a sua profissão de docente e palestrante em toda a Europa, decidiu ingressar no Carmelo Descalço de Colônia, em 1933. Com a crescente ameaça nazista na Alemanha, Teresa Benedita da Cruz, seu nome religioso, e sua irmã Rose, que estava no mesmo mosteiro como terciária, são enviadas para o Carmelo da Holanda. Após a divulgação de uma carta da Igreja da Holanda com críticas ao nazismo, os cristãos judeus passaram a sofrer represálias, sendo Irmã Teresa e sua irmã capturadas. Edith Stein morreu em 9 de agosto 1942, aos 51 anos, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, envenenada numa câmara de gás.

A particularidade da conversão desta grande mulher, que passou por um longo período de ateísmo, uma profunda crise existencial está na contínua busca da verdade que encontrou, definitivamente, na Pessoa de Jesus Cristo, relatada na própria experiência de Santa Teresa de Ávila. Fechando o Livro da Vida, ela mesma declara: “encontrei a verdade”.

A mensagem mais forte que Santa Teresa Benedita da Cruz nos transmite é a experiência da Cruz de Cristo, que ela abraçou desde o dia do seu batismo, até o seu martírio.

«O próprio Divino Salvador referiu-se á cruz em várias ocasiões e de diversas maneiras. Quando, por exemplo, prenuncia a sua paixão e morte, refere-se, literalmente, ao madeiro da cruz, como sinal da ignomínia em que terminaria a sua vida.

Quando, porém, diz: “aquele que não toma a sua cruz e me segue, não é digno de mim”; ou quando diz: “se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”, refere-se a tomar sobre si a cruz como símbolo de tudo quanto é pesado, humilhante e tão contrário à natureza que equivale a caminhar para a morte. Esse fardo, o discípulo de Cristo deve tomá-lo sobre si todos os dias…

Cristo entrega a sua vida para dar aos homens a entrada na vida eterna. Porém, para ganhar a vida eterna, eles deverão, por sua vez, sacrificar a vida terrena. Deverão morrer com Cristo para com Ele ressurgir; isto quer dizer que, pelo sofrimento e abnegação de si mesmos, devem morrer, diariamente, durante a vida toda e, se necessário, aceitar o martírio em testemunho do evangelho».

EDITH STEIN, A Ciência da Cruz, São Paulo 2° edição 1999, ed. Loyola, pp. 19-20

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